Virgílio
Neto

(1986-) Nasceu em Brasília. Vive e trabalha em São Paulo

Virgílio é um artista visual cuja principal forma de trabalho é o desenho extensivo, tentando relacioná-lo à várias outras linguagens como a escrita, a pintura, a arquitetura e a cultura popular e urbana. Ele utiliza diferentes materiais — como o grafite, a aquarela e o pastel —, explorando suas potencialidades e nuances. O artista trabalha simultaneamente com vários elementos em um único desenho, reunindo questões que normalmente não estariam em proximidade, estabelecendo, assim, novas possibilidades e narrativas. O artista nos convida a olhar para sua obra como um todo, mas também chama nossa atenção para todos os seus detalhes.

Para o Rosewood São Paulo, Virgílio Neto criou uma obra de arte abrangente no Belavista Rooftop Pool & Bar, ao cobrir as paredes do foyer com a história imaginária da tia do Conde Matarazzo. O artista nos convida para uma viagem criativa em torno dos contos e histórias transmitidos por seus desenhos cheios de narrativas lúdicas. Ele também criou papéis de parede para alguns dos quartos do hotel.

Virgílio Neto conta sobre seu trabalho:

“Gosto de pensar em meu projeto, o afresco que criei para o foyer do Belavista, como uma grande paisagem. Mas não aquela ideia estabelecida de paisagem como uma imagem a ser contemplada, emoldurada, fixa e congelada no tempo”. Eu apresento uma paisagem encantadora, quase um convite para uma viagem. Há muitas paisagens: desenhos, pinturas, textos, gráficos, mapas e labirintos. Não estou interessado em definições; talvez o grande poder do trabalho seja este, em expandir a linguagem do desenho e permitir que ele coexista com tantas outras referências. Para viajar por esta paisagem, não há portas definidas para se entrar, porque aqui tudo é um começo — nada tem um fim. É uma obra que não somente pode ser vista, mas também lida, como um grande livro aberto. Há muitos caminhos a serem percorridos. Cada olhar fará uma viagem, uma leitura, e cada um poderá ter sua própria experiência e criar sua própria história. É um desenho vivo, que é sempre renovado a cada vez que alguém se inclina sobre ele. Esse desenho paisagístico é também um convite para fazermos um tour pelo Brasil. Qual Brasil? Eu não sei. O Brasil é uma ideia? É um país? É uma luta? Para mim, o Brasil é, acima de tudo, uma febre, um susto. O Brasil é uma ferida profunda, mas sempre um projeto/paisagem em construção. Assim, aceitei o desafio de tentar desenhar sobre meu país e fui pesquisar os elementos de sua fauna, flora, cultura popular, arquitetura etc para compilar e desenhar imagens que serviram como base para o projeto. Também me deixei levar pela intensa experiência de trabalhar in loco por dois meses, em meio ao trabalho de construção e restauração. Essa rica experiência permitiu que eu incorporasse ao meu trabalho as histórias que ouvi, as lembranças dos funcionários de como era o lugar antes da reforma. Eu desenhei plantas que vi serem trazidas diariamente para o Cidade Matarazzo e aceitei as sugestões das dezenas de pessoas que passavam pelo local todos os dias e conversavam comigo sobre os meus desenhos. João Ubaldo Ribeiro (o falecido escritor e cronista brasileiro) já disse em seu livro Viva o Povo Brasileiro: ´O segredo da verdade é o seguinte: não existem fatos, só existem histórias´. Portanto, posso dizer que meu trabalho transmite essas histórias. Ali, eu falo de lugares, animais, plantas, pessoas, lendas… mas cuidado: nada é nosso. Nós viajamos, descobrimos animais, amamos e perdemos pessoas, inventamos lendas, desmatamos florestas e cultivamos jardins. Mas, em última análise, temos apenas nossas histórias e os caminhos que traçamos até agora.”